
A PROCURA DO BEM ESTAR DO CAVALO
Revista Equitação On-Line - Junho 2011
Toda gente acha que trata bem o seu cavalo e que está feliz. Então porque existem tantas diferenças de condições de vida e de cuidado entre eles?!... Neste artigo, vos proponho a refletir sobre o conceito de Bem-Estar Animal
Então começamos por a definição do bem-estar animal segundo a lei : refere-se a um animal que não passa nem fome nem sede, que está num ambiente adequado, em condições físicas saudáveis, que não mostra problemas de comportamento, nem sofrimento, dor ou ansiedade…
Esses critérios são todos muito subjetivos! Quase chegamos a tentar definir o que é bom ou mal… um discurso filosófico sem fim!
Exemplos :
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Há pessoas que acham normal prender um cão a uma corrente metálica de dois metros toda a vida quando outras estarão revoltadas. O mesmo acontece com o fechar um cavalo numa box.
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Há pessoas que consideram que a melhor vida para um animal é ficar sempre solto e que se ficar doente ou ferido é casualidade da vida em liberdade e que se vai curar sozinho como na natureza, quando outras pessoas vão ter muito cuidado em não deixar ele livre para o proteger.
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Há pessoas que se riem de outras que poem pomadas em arranhões três vezes por dia ou não vão poder comer se os seus animais não tem comido, nem dormir se não tem a certeza de que estão em segurança.
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Há pessoas que acham que estão a tratar bem o seu cavalo se tem palha a vontade para comer, em quanto outras vão comprar diferentes variedades de rações e complementos alimentares.
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Há pessoas que vão dar banho a seu animal com shampoos perfumados e água quente com frequência, quando outras nem vão limpar as feridas, convencidas de que se vão curar sem problema porque é um animal muito mais resistente que nós.
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Há pessoas que dormem com o seu cão na cama e outras que consideram perigoso para o equilíbrio psicológico do animal.
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Há pessoas que passam muito tempo na limpeza e a beleza do seu cavalo quando outras pensam que o cavalo prefere rebolar-se na lama. Ou vão por um laço vermelho na cabeça do caniche que tal vez se sente vergonhoso e preferia cheirar a cadáver!
Existem vários fatores que podem influenciar a nossa maneira de cuidar dos animais :
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O mais importante são as heranças de nossas tradições, nossa cultura e nossa educação que mudam nossa perceção do que é “normal”, coreto, aceitável... ou não.
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Mas também a sensibilidade própria de cada um de nós, faz que nos preocupamos mais o menos para um animal doente ou que percebemos mais o menos o sofrimento físico, emocional ou psicológico do animal. Ele não fala com uma linguagem fácil de interpretar pelo ser humano. E faz falta muita experiência para identificar os sinais de sofrimento. Temos de usar a nossa intuição e a nossa empatia, que em geral não são qualidades que aprendemos a desenvolver… No entanto, nós humanos rejeitamos qualquer tipo de sofrimento. De essa maneira também nós fragilizamos... A dor é uma advertência do corpo e suprimi-la pode ser perigoso.
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Mas acho que é nossa responsabilidade de evitar de provocar sofrimento e fazer esforços suficientes para reduzi-lo. Na realidade, muitas vezes com um pouco de vontade só, conseguimos melhorar muito as situações.
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Evidentemente, as posses materiais, e especialmente os recursos económicos de cada um, limitam nossas possibilidades de ação.
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Enfim, mais dedicamos tempo, energia e dinheiro a nossos animais, mais melhoramos o seu bem-estar e evitamos sofrimento. Logo, mais damos, menos sobra para nós mesmos... então a escolha é totalmente pessoal entre o que consideramos justo de dedicar a eles ou a nós...
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Alem disso, muitas vezes infligimos sofrimento sem saber e sem querer. Nesse caso é falta de conhecimento e devíamos de buscar informação.
Cada um tem que encontrar o MEIO-TERMO entre :
Ter um animal abandonado a seu estado natural, ou tratá-lo como um boneco super protegido. As duas maneiras prejudicam ao animal, fisicamente o psicologicamente.
Infelizmente, em comparação a outros países, em Portugal, há muita margem de melhoria possível!... Então vos incentivo a questionar todas essas tradições que seguimos cegamente e a buscar informações para poder eleger com consciência o que vos parece bom para os seus animais.
Vou tentar ajudar nas próximas edições, oferecendo algumas alternativas ao cuidado e ao ensino dos cavalos, e explicando as vantagens de esses métodos tão diferentes dos tradicionais.
Concluo com esta pergunta : que significa ter um animal ?
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Possui-lo, pois dispor da sua vida como nos apetece, para satisfazer os nossos desejos e chegar aos nossos objetivos egoístas ?
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Ser responsável pela sua vida, pois ter o dever de fazer tudo o que pudemos para oferecer-lhe as condições adequadas às suas necessidades e o melhor trato possível…
Que direito temos como seres humanos de sempre querer manipular a natureza e adaptá-la a nossos objetivos?
PARA QUE SERVE A EQUITAÇÃO NATURAL?
E A BASE DE CUALQUER RELAÇÃO CAVALO / SER HUMANO
Revista Equitação - Agosto 2011
A “Equitação Natural” é uma forma de trabalhar com os cavalos muito recente (alguns anos só) na história da relação entre homens e cavalos. Na nossa época, por desconhecimento, muita gente pensa, no melhor dos casos : que “só serve para divertir-se com o seu cavalo”; e frequentemente : que “não serve para nada”…
Uma pequena lista não exaustiva dos preconceitos associados à “equitação natural” :
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Só ensinam a mimar ao cavalo
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Só serve para :
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brincar com o seu cavalo
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trabalhar num picadeiro redondo
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fazê-lo subir num reboque
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Os resultados são muito lentos
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E perder o tempo
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E impossível pedir exercícios de nível técnico alto com esses métodos
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E incompatível com os objetivos de competição
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Enganam as pessoas fazendo crer que :
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pode-se desbastar qualquer potro “selvagem” numa hora,
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pode desbastar sozinho o seu cavalo depois dum cursinho de 3 dias
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poderás resolver qualquer problema seguindo algumas receitas,
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E perigoso porque :
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deixam o cavalo fazer o que quer,
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nunca se chateiam com ele
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nem o obrigam a nada
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nem lhe impõem limites de segurança
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E perigoso porque parece tão simples que depois as pessoas reproduzem métodos sem saber o que estão a fazer
Pois asseguro-lhes que quanto mais conheçam a equitação natural, mais se aperceberão que podem conseguir todo o que quiserem com uma boa base de equitação natural, e de maneira muito respeitadora do animal.
PRIMEIRO PRECISAMOS DE CLARIFICAR O QUE REALMENTE E A “EQUITAÇÃO NATURAL”
E uma atitude, uma filosofia de trabalho e uma busca de bem-estar, tanto do cavalo quanto do cavaleiro... E desenvolver uma relação com o cavalo baseada na sua própria natureza, no seu próprio sistema de estabelecimento da hierarquia, nos seus próprios modos de comunicação.
A consequência deste trabalho é um cavalo contente, atente, confiado e respeitador. Assim que um cavaleiro capaz de ser um guia (o “líder”) para o seu cavalo e de explicar-lhe o que quer de maneira compreensível para ele.
Com certeza, é o que todos nós queremos conseguir, seja qual for a disciplina que praticamos com o nosso cavalo!
Ao início, o que é conhecido agora como a equitação natural foi desenvolvido por algumas pessoas que trabalham com cavalos em manada nos Estados Unidos, a partir das observações que fizeram do comportamento dos cavalos entre eles. A seguir, essas pessoas analisaram e estruturaram esse conhecimento em metodologias pedagógicas para poder transmiti-lo.
Mas quem convive com os cavalos, quem trabalha no campo assim como os homens e mulheres experimentados no mundo do cavalo já sabem : é sentido comum ou intuição para eles!
Para os que temos perdido este conhecimento, habituados a ter cavalos estabulados que saem do seu box só para serem montados, é preciso voltar a se perguntar : que é um cavalo, que necessita, como comunica? E os americanos (inicialmente Monty Robert, John Lyons e Pat Parelli) tem formalizado este conhecimento para poder difundi-lo aos utilizadores das hípicas e a todos os proprietários de cavalos.
Há agora uma variedade importante de ofertas na equitação natural, cada uma com os seus métodos e cada professor com a sua sensibilidade. Pode escolher aquela que melhor convém a sua personalidade e aos seus objetivos.
Então, para que serve a equitação natural?
Pois desde o momento que escolhemos lidar com cavalos, independentemente do que queremos partilhar com eles, a nossa primeira necessidade e obrigação é aprender a conhecê-los, entender as suas reações, as suas motivações e a sua linguagem. E a “equitação natural” está particularmente adaptada a esses objetivos porque está baseada sobre estudos etológicos, isto é, do comportamento do animal no seu estado natural.
Com essa base :
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podemos estabelecer uma relação de amizade, confiança e respeito mútuo com o nosso cavalo
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alcançamos o máximo bem-estar do cavalo tanto quanto do cavaleiro
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a mais duma relação de hierarquia indispensável para preservar a nossa própria segurança tanto quanto a do nosso cavalo ou dos demais seres humanos ou cavalos que se aproximam dele
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limitamos os riscos de acidentes por reações de medo, de resistência, de fuga, de agressividade…
A vantagem da equitação natural é que nos permite conseguir essa segurança sem usar de métodos ou ferramentas que magoam fisicamente, emocionalmente ou psicologicamente ao cavalo.
QUALQUER CAVALO E QUALQUER CAVALEIRO PODE BENEFICIAR DO ENSINO DA EQUITAÇÃO NATURAL, EM QUALQUER NIVEL
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Tendo conseguido um bom equilíbrio psicológico do nosso cavalo e uma boa relação com ele, vai-nos resultar muito mais fácil conseguir que faça qualquer coisa que nos pedirmos.
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Assim resolvemos e ainda melhor prevenimos os problemas de comportamentos tão frequentes que encontramos com os nossos cavalos diariamente.
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A aprendizagem é lenta mais respeitadora do ritmo do animal, preservando a sua motivação e permitindo ao mesmo a integração de cada etapa para assegurar o sucesso da seguinte
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E a conexão emocional que desenvolvemos permite-nos uma comunicação muito mais fina e efetiva quando montamos.
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Sem falar do meeiro prazer de partilhar momentos sem conflitos ou tensões com o seu cavalo
Por fim, mesmo ao nível de competição, interessa alcançar uma cumplicidade máxima e uma comunicação perfeita com o seu cavalo de modo a preservar a sua motivação cuidando do seu estado de ânimo, para melhorar o seu rendimento…
Em outros países são organizadas competições de várias disciplinas em equitação natural e esse ensino é integrado nas formações equestres, tanto ao nível pessoal quanto profissional, porque foram demostrados o seu interesse e a sua necessidade…
Experimente! Com objetividade. Com certeza será uma experiência enriquecedora tanto para si próprio quanto para o seu cavalo e por consequência para a relação entre ambos!
A EQUITAÇÃO ALTERNATIVA
Entre Equitação Natural e Arte Equestre
Revista Equitação - Outubro 2011
Porque esta associação de palavras : Equitação e Alternativa?
A Equitação, na nossa sociedade contemporânea, é principalmente um termo que aplica-se a uma actividade de ócio e de desporto. Mas não devemos esquecer que há milhares de anos que os humanos se aperceberam que o cavalo representava muito mais que um gado para nós. Vários povos no planeta aprenderam a ensinar ao cavalo, com o objectivo de trabalhar no campo, de ir à guerra, à caça, de viajar, de carregar coisas ou pessoas dum lugar para outro. Este conhecimento chegou no seu apogeu no século 18, com o famoso Arte Equestre que praticava-se nas cortes dos reis.
Assim, o cavalo sempre se adaptou às nossas necessidades. Por entanto tornou-se um objecto do qual usamos e abusamos para satisfazer os nossos desejos... E acabamos por esquecer o que é realmente um cavalo. Por isso fez falta pesquisas muito recentes (algumas dezenas de anos) na área da etologia (ciência que estuda o comportamento dum ser no seu ambiente natural), que nos permitem compreender melhor o cavalo. Com esta base “nova”, se desenvolveram vários métodos chamados de Equitação Natural, que oferecem a possibilidade de nos relacionar com o cavalo duma maneira mais respeitadora.
Agora, a Equitação Alternativa procura combinar o melhor nível técnico (dos mestres do século 18) com o melhor nível relacional (baseado na etologia). O resultado e uma Equitação que usa o mínimo de obrigações possível e procura sensações de harmonia, tanto física quanto emocional.
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Trabalho sobre a relação :
A RELAÇÃO ESTABELECE-SE PRIMEIRO NO CHÃO
Condições de vida
Cuidar a qualidade da relação é essencial para obter uma boa comunicação com o cavalo. E indispensável aprender a comunicar com o cavalo pé na terra, antes de pretender comunicar com ele sentado em cima dele.
Primeiro, se queremos ter companheiros equilibrados emocionalmente e psicologicamente, temos de oferecer-lhes condições de vida adequadas com as suas necessidades, que são principalmente : espaço suficiente para poder caminhar, em grupo para ter contactos sociais e afectivos, e comida com base de forragem.
Hierarquia
Logo, temos de estabelecer uma hierarquia saudável para o cavalo tanto quanto para nós. O conceito de dominância para um cavalo sendo diferente de que para nós, porque o cavalo e uma presa e nos somos um depredador! Para reconhecer-nos como o seu guia, e então ter vontade de colaborar connosco, o cavalo precisa de sentir que somos capaz de lhe proteger assim como de controlar os seus movimentos. Por isso vamos usar muito amor, calma e paciência para lhe ensinar o que queremos fazer com ele; assim como mostrar suficiente confiança em nós próprios para impor limites de segurança quando seja preciso. Mesmo nestes casos, existem castigos que não são violentos para o cavalo : o mais natural e compreensível para ele, é simplesmente “mandar-lhe embora”! E qualquer castigo será mais eficiente se está acompanhado por felicitações quando o cavalo está a fazer bem...
E TÃO IMPORTANTE CONSEGUIR A SUA CONFIANÇA COMO O SEU RESPEITO
Comunicação : como explicar-lhe o que queremos?
Uma boa comunicação com o cavalo deve de ser baseada na sua própria linguagem, que é essencialmente corporal. O mínimo movimento nosso é uma informação para o cavalo e temos de ser conscientes das senhas que lhe mandamos na nossa maneira de caminhar, de levantar uma mão, de dirigir os ombros, de baixar a cabeça, etc...
Temos também de tomar em conta uma das suas características principais : a sensibilidade... E então aprender a sempre usar senhas as mais subtis possíveis. Que seja à distancia (trabalho a pé) ou em contacto direito (trabalho montando), devemos de procurar o mínimo de pressão possível.
A nossa voz pode ser também uma ajuda muito importante. O cavalo percebe muito bem o sentido de algumas palavras, se estão ensinadas junto com acções físicas (especialmente para o controle dos andamentos : passo, trote, galope, parada). E o uso da voz permite mais subtileza na comunicação.
E se o cavalo não chega a fazer o que lhe pedimos, temos primeiro de tentar perceber porque? Em vez de se chatear com ele, há de verificar que ele compreendeu e que está capaz de fazê-lo. Logo voltar a pedir duma outra forma mais clara para ele, ou descompor em pequenas etapas mais fácies de conseguir para ele. Tudo se consegue com perseverança e determinação!
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Trabalho sobre a técnica :
E essencial trabalhar muito a guia cumprida : no só para ensinar aos poldros, mas também para ginasticar os cavalos antes de montá-los. Passar a guia serve tanto para desenvolver a flexibilidade e o equilíbrio dos cavalos, quanto para relaxá-los. Por isso praticam-se estiramentos (da coluna e dos músculos) e flexões (do pescoço e da nuca), procurando a encurvação do corpo inteiro e a verticalidade, amplificando a onda do dorso e a rotação dos ombros. Também nesta fase ensinamos ao cavalo as ordens com a voz, que seguiremos usando logo montando.
Montando, a base do treino são as deslocações laterais e logo as flexões das ancas, para chegar a tão desejada “reunião”, assim como a todos os exercícios de alta escola.
Trata-se de corrigir os desequilíbrios e canalizar a energia, para chegar aos exercícios mais difíceis de alta escola...
Montar em pelo é a melhor maneira para o cavaleiro de aprender a desenvolver o seu equilíbrio, melhorar a sua posição e a sua ligação com o cavalo.
A ausência de ferro na boca (não é preciso para parar o cavalo. Quando perdemos o controle, a maneira mais eficaz é virar...), de esporas ou de chicote; permite uma maior cumplicidade, relaxação, fluidez e por fim : prazer mutua do cavalo tanto quanto do cavaleiro!
Sem exigência nem busca de performance, conseguimos sensações de harmonia, de conecção com o cavalo, de agilidade, de ligeireza. Poderem observar o resultado deste trabalho na feira de Golegã...
Ainda nos falta muito caminho para compreender realmente todas as potencialidades do ser cavalo para nós... Para integrar a ideia que não só se pode ensinar ao cavalo, mas também que ele pode nos ensinar... voltando as crenças das culturas antigas que sabiam que a natureza em geral é uma fonte de sabedoria. De aí chegamos ao conceito de Arte-terapia equestre, que detalharemos numa próxima edição...
O CAVALO CURANDEIRO
A ARTERAPIA EQUESTRE :
UMA FERRAMENTA DE CRECIMENTO PESSOAL
Revista Equitação - Dezembro 2011
Quantos de nós nos temos dado conta que o cavalo nos ensina muito sobre a vida e sobre nós mesmos ? Na antiguidade, várias culturas (como os Celtas e os Chineses) já usavam o cavalo como terapeuta. Na nossa sociedade, o cavalo pode ajudar a muita gente a se curar, quer seja ao nível social, emocional ou psicológico.
Desde milhares de anos o cavalo tem inspirado mitos, lendas ou cultos. É a montura dos deuses e dos reis. Está presente no nosso inconsciente colectivo por termos ajudado nas nossas tarefas quotidianas no campo ou para deslocarmos. Simboliza o poder, o movimento, o equilíbrio, a liberdade, a beleza, as paixões…
Porque a “arterapia equestre”?
O ensino de cavalos é uma Arte por sua parte criativa, emocional e estética mas também porque requere intuição e sensibilidade. Por isso a equitação do século 18 se chamava “Arte equestre”…
O contacto com o cavalo é uma terapia porque as capacidades curativas do cavalo são muito amplas.
Se conhece principalmente o seu uso para pessoas deficientes (a Equoterapia e a Hipoterapia) ou com problemas de inserção social (jovens hiperactivos e rebeldes ou pessoas saindo de prisão).
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Aos primeiros, o cavalo lhes ajuda ao nível físico para a sua motricidade, equilíbrio, consciência do corpo (diferenciação direita/esquerda por exemplo); e ao nível psicológico para a concentração, a valoração como pessoa; e sempre para a comunicação (os câmbios são espectaculares com autistas).
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Aos segundos lhes permite aceitar regras e limites, disciplina, aguentar frustrações, responsabilizar-se e usar outros médios que a violência para conseguir o que quer.
Também são acertadas as habilidades dos cavalos para desenvolver a sua autoestima, a sua capacidade de se afirmar e de superar medos.
Igualmente, muita gente tem experimentado o apoio do cavalo durante uma depressão.
Menos conhecidas são as funções educativas dos cavalos para os miúdos :
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respeitar ao“outro”,
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se posicionar frente a outro ser vivo na natureza,
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não usar a violência,
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não exigir,
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ser perseverante e paciente,
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ser atento,
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ficar quieto,
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agradecer,…
QUALQUER PESSOA PODE BENEFICIAR DO CONTACTO COM O CAVALO PARA SE CONHECER A SI PROPRIO E CRESCER…
O cavalo terapeuta :
O cavalo é um animal que fascina. Mesmo se está atracção se combina amiúde com respeito ou medo, muita gente tem vontade de se relacionar com os cavalos. E os que nos temos atrevido a montar, nos apaixonamos por este animal e torna-se uma necessidade.
Além de ser uma actividade de ócio e um desporto, estar numa relação com o cavalo é uma verdadeira escola de vida… A cada um de nós, cada cavalo nos ensina algo, nos permite melhorar como pessoa.
A natureza e especialmente o cavalo é um mestre para os que procuram equilíbrio e sabedoria.
Primeiro e simplesmente porque nos permite reencontrarmos com a natureza, numa sociedade que nos afasta da nossa própria natureza animal e dum ritmo de vida saudável. Pelo seu caractere assustadiço, o cavalo precisa se sentir protegido pela pessoa que lhe acompanha. Por isso nos obriga à desenvolver serenidade e calma. O cavalo capta logo o nosso estado emocional e não nos permite nos aproximar com stresse, medo, raiva ou agressividade. Trabalhando com um ser vivo, praticámos o “estar aqui e agora”, totalmente presentes e concentrados nas sensações…assim desconectamos a mente.
Segundo porque estar com o cavalo implica desenvolver varias qualidades, tanto femininas quanto masculinas e assim equilibrar os nossos lados Yin e Yang :
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Referente ao cérebro direito, podem se desenvolver : sensibilidade, intuição, recetividade, diplomacia, tolerância, constância, doçura, paciência, humildade, adaptabilidade, relaxação e flexibilidade do corpo, etc.
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Respeito ao cérebro esquerdo, trabalharemos a nossa capacidade de : analisar e antecipar, definir objectivos claros, inventar estratégias, segurança em sim próprio, perseverança, determinação, vontade e força muscular, etc.
Terceiro porque o cavalo é o nosso espelho. Pela sua inocência e a sua espontaneidade, nos reflete imediatamente os nossos erros quando lhe pedimos algo. Assim nos permite questionar a nossa relação com outro ser vivo (inclusivo os seres humanos) e a nossa maneira de comunicar. Aprendendo a :
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observar e escutar,
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interpretar os senais corporais e perceber as emoções,
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respeitar as diferencias e encontrar compromissos,
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procurar a sua próprio culpa,
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usar o reforço positivo e ser justos no uso de castigos e felicitações,
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afirmar-se sem chateiar-se,
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pedir algo a alguém.
Todo o que aprendemos com os cavalos pode se aplicar as nossas relações na vida quotidiana, que sejam pessoais, familiares ou profissionais.
No mundo empresarial, poendo na prática os ensinamentos para uma melhor integração dos métodos, podem se trabalhar muitos temas :
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Luta contra o stresse,
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Seleção de empregados,
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Liderança (management feminino),
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Gestão de projetos e de equipos,
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Gestão do tempo e da mudança,
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Mistura de culturas,
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Comunicação e negociação.
A mais, investindo no bem-estar físico e emocional das pessoas, que constituem a primeira ferramenta da empresa, se conseguem benefícios que entram pouco nos planos de gestão a curto prazo mas que asseguram a motivação dos empregados…
Qualquer sejam os nossos objectivos de vida, o cavalo age como uma medicina holística, ajudando-nos na nossa busca de harmonia tanto física quanto psicológica, emocional, social ou espiritual… merece toda a nossa estima e agradecimentos!
MONTAR EM PELO
TORNAR-SE UM CENTAURO
Revista Equitação - Fevereiro 2012
Os antigos mestres ensinavam a montar em pelo, com o cavalo à guia. Para que será? Estamos habituados a montar com sela. Será realmente preciso? Que descobriríamos se nos atrevemos a tirá-la?
As principais vantagens da sela são : ficar em equilíbrio mais facilmente, proteger do suor do cavalo e evitar lesões devidas ao contacto direito com a sua coluna. Mas também tem inconvenientes :
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A transmissão das informações que o cavaleiro dá ao seu cavalo, fica limitada à parte de baixo das pernas.
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Diminui muito a sensibilidade reciproca do cavalo e do cavaleiro.
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A sela estorva a respiração do cavalo, a mobilidade das espáduas, a flexibilidade das costelas e a ondulação do dorso.
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O dorso do cavalo sofre por levar selas que não estão feitas à sua medida e a repartição do peso do cavaleiro fica concentrado ao vaso da armação.
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O peso da sela aumenta o peso do cavaleiro.
Pelo contrário, quando montamos em pelo :
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É muito mais confortável para o cavalo e saudável para o seu dorso.
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contacto directo permite-nos sentir os mais ínfimos movimentos das diferentes partes do cavalo e reciprocamente.
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Beneficiamos de uma comunicação mais subtil e usamos principalmente a posição do corpo.
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Melhoramos a nossa posição e o nosso assento, porque apercebemo-nos da importância do relaxamento e da flexibilidade da nossa cintura para acompanhar os movimentos do cavalo.
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Conseguimos sensações de harmonia e de união com o cavalo.
De que maneira conseguir um bom equilíbrio sem sela (também o teremos montando com sela) ?
Para subir para cima do cavalo, podemos ajudar-nos em qualquer coisa suficientemente larga e estável para por os dois pés, e alta para passar a perna por cima da garupa, apoiando as duas mãos no garrote do cavalo.
Posição correcta do cavaleiro :
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Relaxação geral máxima, respirando profundamente.
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Rotações dos ombros para trás para juntar as omoplatas e abrir os pulmões.
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Os braços e as pernas mexem-se livremente (articulações soltas). A parte acima do cotovelo e a perna inteira caem-se verticalmente.
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As pernas só tocam o cavalo acima do joelho. Virar os joelhos para dentro para : apoiar a parte interna das coxas contra o cavalo, não deixar a ponta do pé virada para fora e descer o mais possível a perna.
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Mantendo as costas direitas, inclinar para trás da vertical com os abdominais para libertar a pélvis e conseguir um melhor equilíbrio em movimento.
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peso na parte posterior das nádegas para no se magoar com o garrote.
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E o mais importante : SOLTAR A CINTURA para conseguir um bom assento, deixando que esta se mova livremente para a frente / trás e para a esquerda / direita.
MONTAR EM PELO É A MELHOR ESCOLA PARA DESENVOLVER O SEU EQUILÍBRIO COMO CAVALEIRO
Vamos ver como compensar os desequilíbrios gerados pelos movimentos do cavalo com a parte de cima do corpo, sem nunca precisar de apertar as pernas e, muito menos, de agarrar a boca do cavalo !
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Posicionar sempre os ombros atrás da vertical. Quanto mais rápido o cavalo vai, mais inclinaremos o tronco para trás.
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Igualmente, quando vamos mais devagar ou paramos, devemos amplificar esta inclinação do tronco para compensar a força da inercia que nos manda para frente.
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Nas descidas, fazemos o mesmo. E ao revés, nas subidas acercar-nos-emos do pescoço do cavalo.
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Numa volta : para compensar a força centrífuga, que nos manda para fora do círculo, temos que nos encurvar para dentro, flexionando as costelas e virando os ombros para o interior (pondo mais peso no interior do círculo), mantendo a anca horizontal e as pernas soltas.
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Este movimento servir-nos-á quando tivermos que pedir uma volta muito apertada ao cavalo, com objectivo de o parar caso se descontrole. Nunca apertar as pernas contra o cavalo para não gerar uma aceleração do movimento (condicionada por um reflexo de fuga natural em resposta à nossa própria tensão).
O segredo do equilíbrio do cavaleiro reside na flexibilidade da cintura.
Isso supõe um estado de relaxação máximo, mesmo se o cavalo se assustar, saltar para o lado ou acelerar sem avisar. Quanto mais tranquilos ficarmos, mais rapidamente o cavalo voltará à calma. Quanto mais tensos ficarmos, mais amplificaremos as tensões do cavalo…
Em geral sempre temos medo, mesmo inconscientemente, de cair. Por isso, ficamos tensos, emociona e fisicamente. Se conseguimos controlar o nosso próprio medo e confiar no nosso cavalo, tanto quanto em nós mesmos, evitaremos muitas situações conflituosas e perigosas. É paradoxal mas funciona, convido-os a experimentar : mais relaxado, menos desequilibrado!
Em casos de dificuldades técnicas (equilíbrio em competição) ou de conforto (passeios largos, coluna saliente) será mais prático levar uma sela. Mas existe também a opção de utilizar uma manta com cinto que se encontra no mercado.
Praticar a monta em pelo, incute-nos um estado de relaxação, de flexibilidade e de equilíbrio que nos vai servir em todas as disciplinas e nos vai permitir conectar melhor com o nosso cavalo. Os miúdos e os bailarinos conseguem-no naturalmente. É muito saudável para o nosso corpo e traz um prazer incomparável : experimenta!
MONTAR SEM FERRO NA BOCA... É POSSÍVEL?
AS EMBOCADURAS SÃO FERRAMENTAS DE CONTROL POR DOR ...
Revista Equitação - Abril 2012
Porque estamos a usar uma embocadura para montar ?
Desde o começo da domesticação do cavalo pelo homem, ele precisou dum meio do controlar, primeiro para poder deslocar-lho, como gado, depois para poder dirigir-lho quando o montar. No início, usava-se uma argola nas narinas, mas rapidamente foi substituído por um ferro na boca. Desde então, o homem não parou de conceber embocaduras cada vez mais elaboradas. Sempre com o objectivo de controlar mais facilmente o cavalo. O bridão assim, que outras ferramentas tal como as esporas, o chicote, o freio com a barbela ou a serreta, deviam de provocar um estímulo necessário para conseguir o que lhe pedimos.
No entanto, o uso da embocadura e uma moléstia para o cavalo : imagina-se com uma barra de ferro na sua boca... gostava dessa sensação? A mais, os ferros exercitam pressões em diversos lugares muito sensíveis da boca do cavalo, cheia de mucosas frágeis e nervos. E chegamos muito rápido a magoar o cavalo, por dor ou por destruição das partes submissas à pressões ou pancadas quando o cavaleiro puxa nas redes.
Na nossa época existem estudos científicos que comprovam que este estímulo provoca :
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Hematomas na boca, palato e gengivas (ate lacerações)
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Elevação ou deslocamento do palato mole, alterações dentais
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Choques neuro-cranianos, stress do sistema nervoso central
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Alteração da respiração e patologias em diversas áreas, desordem do sistema digestivo
Para mais informações sobre estas investigações, recomendo o livro de Nevzorov Haute Ecole : “The Horse Crucified and Risen - Horse Encyclopedia”, best seller na Rússia, que podem encontrar na internet.
As pessoas argumentam que e preciso levar uma embocadura por diversos motivos :
« Para parar o cavalo quando se descontrola
« Para chegar a um nível mais fino de ensino
« Para não ter que usar mais força
« Para que o cavalo seja mais obediente
« Para poder indicar ao cavalo a direção desejada
Muita gente pretende que se foram usadas com juízo e finura, as embocaduras não magoam ao cavalo. E eu pergunto : porque fazer-lhas tão duras? Porque não as tirar? Sempre chega um momento em que a pessoa vai usa-las para o que foram desenhadas : obrigar pela dor!
O cavalo e um animal grande, forte e poderoso pelo que gera medo, que seja consciente ou não. Então para minimizar os riscos e se proteger, o ser humano prefere usar ferramentas de controlo pela dor.
Mas se temos suficiente paciência e perseverança para ensinar ao cavalo, não chegaremos a situações de conflito. Analisando as causas de resistência do cavalo, encontramos :
« Falta de antecipação ou de preparação
« Falta de confiança na pessoa que o leva
« Esforço pedido demasiado importante ao nível físico ou emocional
« Situações nas quais o instinto predomina sobre a educação
Mesmo quando o cavalo descontrola-se, e uma ilusão pensar que o ferro o vai parar... só se consegue virando.
Soluções Alternativas :
Existem pessoas em todas as disciplinas que realizam sem ferro exercícios de nível técnico internacional. Podem ver alguns exemplos na pagina Facebook Actividades Equestres Alternativas : Stessy Westfall em reining, Michel Robert em salto, Uta Graf em dressage, equipas de raide no Estados Unidos ou na Espanha, etc... Noutros países europeus também organizam-se competições amadores Bitless (cabeçada sem ferro).
Consegue-se desenvolvendo uma grande cumplicidade com o cavalo e uma comunicação eficiente, baseada na própria linguagem do cavalo, para assim obter a sua colaboração.
Soluciones para montar sem ferro na boca :
« Existem vários fabricantes de Bitless Bridle (foto de Manuel Jorge com Claudia Biller em passeio ou Estefania Arborio em salto) que permite ter o mesmo controlo do cavalo.
« Se pode usar só um Cordão na base do pescoço do cavalo (fotos de Nevzorov em Alta Escola).
« Ou trabalhar em liberdade total (foto de Nanja Kreutz).
Também podemos escolher trabalhar com os cavalos pé a terra sem nenhum tipo de constrangimento. A lista de pessoas que ensinam esta disciplina e muito larga e prefiro dedicar outro artigo a este tema.
Com este artigo só pretendo que estejam conscientes das consequências do uso de um ferro na boca do cavalo e da existência de outras alternativas. A embocadura só tem 3 explicações : as presas, o medo e a ignorância...
Logo a escolha e sua, mas estou convencida que desenvolver uma relação de confiança com o seu cavalo, com amor, cumplicidade e paciência, compensa pelo menos o uso da violência e traz sensações de harmonia muito mais bonitas do que obrigar um ser tão generoso a submeter-se a sua vontade.
Que a equitação se torne um prazer para os dois! Informa-te, pensa, prova e escolhe em consciência...
Liberdade e Saúde do Cavalo
Revista Equitação - Junho 2012
Estamos habituados a ter cavalos estabulados e nos esquecemos que esse animal foi feito pela natureza para caminhar livremente em milhares de hectares.
Porque temos os cavalos isolados em boxes ? Essencialmente porque nos está conveniente : para que o cavalo esteja protegido, com boa aparência e sempre disponível :
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E fácil apanhar-lho a qualquer momento que o desejamos
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Não a riscos de ferida com pedras, ramas ou movimento falso a correr num terreno irregular
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Não se pode magoar a brincar com outros cavalos
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Podemos por um cobertor para não crescer o pelo, assim e mais fácil de o limpar e sua menos
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Não se estraga a crina
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É possível ter um cavalo sem ter muito espaço (casa particular), ou juntar muitos cavalos em espaços pequenos (centros hípicos)
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E prático para distribuir a comida
As pessoas pensam que tratar bem o seu cavalo é oferecer-lhe uma box bonita e confortável, sacar-lhe para trabalhar todos os dias (com caneleiras nas pernas), limpar-lhe antes e dar-lhe duche depois, por ferraduras, alimentar-lhe com ração energética, etc…. Mas se estudamos o cavalo no seu estado natural, a etologia nos ensina que ele precisa de :
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Viver em grupo, ter relações afectivas e sociais com outros cavalos
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Caminhar dezenas de km por dia a procura de comida (15 horas por dia)
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Com os pés naturalmente descalços
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Dormir poucas horas (4) em sessões cortas (10 a 30 mn) de pé ou deitados
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Rebolar-se na lama
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Comer muita erva, assim como algumas raízes, ramas, cortiça, folhas ou frutos selvagens
Estas necessidades também valem para cavalos inteiros (As fotos são dos meus 8 cavalos inteiros juntos no campo).
CAVALO SUJO = CAVALO FELIZ !
A etologia nos ensina que ter um cavalo numa box prejudica muito ao seu equilíbrio físico, emocional e psicológico :
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Em espaços tão restritos como uma box (equivalente duma célula de 1m por 3 para um humano), os movimentos estão muito limitados e os músculos inactivos. A mais, o cavalo que nunca pode se movimentar livremente (porque sai só para trabalhar), não se pode rebolar, estirar, dar cozes ou ir a galope desenfreado e assim libertar tensões físicas e emocionais.
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O cavalo isolado dos outros não pode estabelecer amizades e ter relações hierárquicas indispensáveis ao seu desenvolvimento emocional e psicológico. Nem aprender as regras de convivência que também são úteis para não ter atitudes invasivas ou agressivas com os humanos.
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Em liberdade, os milhares de mastigações quotidianas e as largas caminhadas são essenciais para se relaxar e entreter.
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O tempo todo que o cavalo esta a pastar, está também a esticar a coluna e muscular os lombares.
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Em box, os dentes não se desgastam suficiente e criam-se pontas que magoam as gengivas ou as mucosas da bochecha.
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O sistema digestivo do cavalo esta feito para ter uma alimentação a base de fibras: grandes quantidades de alimentos pouco energéticos (forragem). Ao contrario do que provemos quando distribuímos ração que o cavalo absorva muito rápido, o que, com o stress e a ausência de movimento, e a maior causa de cólicas.
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Um cavalo numa box não se movimenta e o chão está húmido e cheio de amoníaco, o que fragiliza o casco. A mais, estamos habituados a por ferraduras, o que prejudica muito a saúde geral do cavalo: impactos na coluna vertebral, ausência de estímulo da ranilha para ajudar ao regresso do sangue para o coração, ausência dos pontos de estimulação dos órgãos (meridianos chineses), repartição do peso unicamente na parede, modificação da forma do pé e dos aplomos, perdida de estabilidade e aderência, etc…
Possíveis consequências de estas condições de vida inadequadas :
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Carência afectiva, frustrações
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Aborrecimento, tristeza, resignação ou depressão
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Nervosismo, stress, desenvolvimento de tiques nervosos (estereotipias) para evacua-lo ou agressividade
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Disfuncionamento do sistema digestivo assim como de todos os órgãos, sobre peso, cansaço do coração
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Dores na coluna vertebral, tensões musculares, cansaço tendinoso
CAVALO FECHADO = PRISIONEIRO E DOENTE
Um cavalo em liberdade e um cavalo saudável e equilibrado. Já tem pensado que a duração de vida dum cavalo é aproximadamente de 35 anos (existe um cavalo que tem 51). Porque, em centros hípicos, consideramos que um cavalo que tem 17 ou 18 anos já é muito velho?... Nem fazem falta tantas explicações : se os sentarem a observar cavalos livres num campo a pastar, a correr e a brincar, os vai parecer evidente que só assim podem ser felizes !
Numa sociedade onde tendemos à sobre protegermos contra todos os perigos possíveis e imagináveis, não estamos a nos fragilizar e desequilibrar?
NEVZOROV HAUTE ECOLE : UMA FILOSOFIA DE VIDA
Revista Equitação - Agosto 2012
Entrevista a Lydia Nevzorov
Lydia Nevzorova, você e o seu marido, Alexandre Nevzorov, criaram a Nevzorov Haute Ecole (NHE) em St Petersburg, Rússia. Qual tem sido a sua motivação e objectivos?
Alexander começou pelo desporto equestre, rejeitou-o e encontrou o seu caminho na Alta Escola, onde ele rejeitou a velha clássica Escola e encontrou inspiração no trabalho de Antoine Pluvinel. Depois disso, começou a treinar cavalos sem embocaduras ou castigos. Algum tempo mais tarde, recusou-se a executar “ares altos” e muitos movimentos de Alta Escola. Então, ele deixou de montar de todo e concentrou-se num velho método “secreto” – LEP (Lectio Equaria Palaestra) – com o qual alguns dos cavalos da NHE já sabem ler e escrever.
A sua paixão pessoal á a Alta Escola, porém esta mesma abordagem pode ser usada por qualquer um, para estabelecer uma verdadeira relação com o cavalo. Obriga-nos a mudar a nossa maneira de ver o cavalo de forma a obtermos o que, o cavalo nos pode dar livremente. Encoraja um modo de vida com os cavalos.
Quais são os princípios da NHE?
Este ensino, ou compreensão, não é efectuado através de domínio humano ou de submissão do cavalo. A meta é inspirar, excitar um cavalo, despertar o seu interesse e revelar todo o seu potencial inapto. Somos nós que temos que nos adaptar à natureza gentil e curiosa do cavalo e não o cavalo que se deve submeter à nossa natureza egoísta e exigente.
Os principais princípios são: honestidade para com o cavalo e nós mesmos; procura do desenvolvimento espiritual; auto-disciplina e auto-educação; olhar apenas para os factos científicos; renunciar os desejos sórdidos (é claro que estou a falar em montar).
Somos extremamente inflexíveis no que se relaciona com a saúde do cavalo, ou a sua segurança e conforto:
Sem desporto, sem embocadura, sem ferraduras, sem montar, sem box 24h 7dias por semana, sem vedações eléctricas, sem utilização do cavalo para espectáculo ou entretenimento de qualquer tipo, sem lucros à custa do cavalo, sem influência humana na reprodução, pois não há necessidade de haver mais cavalos de desporto no mundo, etc.
Nós nunca forçamos ou propagamos as nossas ideias em ninguém. Podemos apenas instruir as pessoas.
Que tipo de treino administram aos cavalos?
Alexander Nevzorov ensina os cavalos a executar os elementos mais difíceis da Alta Escola, não apenas sem qualquer constrangimento, castigos, cabeçadas e embocaduras, mas num cavalo que está em perfeita reunião. Ele mostra como é possível estudar a verdade, a vida dos movimentos biomecânicos e difíceis elementos de Alta Escola que são seguros para o cavalo…
O cavalo ganha confiança, compreende o que lhe pedimos, desenvolve-se fisica e mentalmente e quando o cavalo começa a reunir-se naturalmente, então ele consegue facilmente aceitar o cavaleiro e já sabe o que fazer, com vontade e confiança.
Há exercícios para ajudar o desenvolvimento dos variados músculos e é como um atleta em treino. Não deve haver nenhuma pressa nisso. Reunião virá quando o cavalo estiver preparado. Reunião, sendo um objectivo por si próprio, não será bem sucedida para aqueles que ignoram todos os outros aspectos da relação. Não irá resultar porque o cavalo não terá mais a vontade e confiança devido à renovada força e dor induzidas pelos caminhos tradicionais.
O que e através de que meios ensinam as pessoas na vossa escola?
Verdadeira NHE não é um método para ser usado num cavalo para nosso proveito pessoal, quer monetário ou para alimentar o ego, à custa da gradual degradação da saúde do cavalo. É colocar os nossos próprios desejos de lado. É respeito pelo cavalo.
Idealmente, o cavalo estaria em sua casa consigo. Ajudamos a desenvolver a mente do cavalo, expressão e consciência. Muitas pessoas não conseguem lidar com isso. Uma grande parte do desenvolvimento duma relação é através de jogos. Deve entender que este tipo de relação, de sermos «iguais» ao cavalo, dá para dois lados. Se fizer um pedido e, mesmo sabendo que o seu cavalo sabe o que fazer, mas decide não fazer, não o pode forçar. Se tiver a atitude correcta, mostrando interesse pessoal e entusiasmo, pode sempre tentar pedir outra vez – como tentar convencer um amigo a jogar um jogo – mas deve respeitar o cavalo, também.
Se tiver as melhores intenções, então o cavalo acabará por fazer mais que alguma vez tenha imaginado. Assim que aceitar o cavalo com ele é, e ajudá-lo a entender o que lhe está a tentar transmitir, e ter a paciência para lá chegar, é uma bonita experiência. Não é o objectivo, é a viagem.
Primeiro, temos que libertar o cavalo. Remover a embocadura as ferraduras, e sair de cima dele. Esta é uma afirmação simples suportada por décadas de pesquisa e estudos científicos. Este esforço da nossa parte vale bem a pena. Este é um tempo para curar e recomeçar.
Oferecemos um fórum para aqueles que quiserem verificar se isto é o melhor para eles, e para aqueles que quiserem continuar, há uma escola online, disponível apenas para aqueles que demonstram uma verdadeira escolha de vida, para si próprios e para os seus cavalos. São gratuitos. É impossível vender uma filosofia.
Podemos oferecer orientação e clarificação em vários temas e lições e, os outros membros também podem oferecer apoio e discernimentos através das suas próprias experiências. Há um sítio que oferece recursos e o suporte necessários para realmente fazer a diferença. E aqui, para além do conhecimento sumariado, consegue uma comunicação ao vivo com o Professor, tão amigável quanto possível.
Não há nenhum local ou treinador para onde enviar o seu cavalo. Isto é uma jornada pessoal entre nós e os nossos cavalos. Em muitos casos, as pessoas vêem-se com um cavalo «novo». Alerta, vibrante, energético, motivado e cooperativo… e educado!
Felizmente, em alguns países e regiões temos respeitáveis representantes. Eles podem ajudar aqueles que precisam disto, eles podem manter conversações e por vezes – clínicas. Claro, isto é educação – mas de um humano. Os representantes internacionais são como missionários.
Os encontros que organizamos são para ensinar aos humanos sobre auto desenvolvimento e morais para com os cavalos, não numa forma específica para segurar uma corda ou para fazer com que o cavalo faça alguma coisa.
Vocês laçaram uma petição na internet. Sobre o que é?
Não somos a favor do mero abrandamento do Desporto Equestre. Somo a favor da abolição deste! Não consideramos o Desporto Equestre necessário à sociedade.
A solução é o esclarecimento das pessoas. Não de cavaleiros – eles nunca irão mudar. Quando as pessoas comuns deixarem de visitar os eventos equestres, só aí, algo irá começar a mudar.
Há anos que construímos um vasto processo contra desporto equestre. Temos toneladas de fotografias e vídeos terríveis retratando a crueldade do hipismo. Também fizemos muitas pesquisas. No livro apenas as primeiras das nossas ideias e descobertas são mencionados. As primeiras ideias são as mais importantes.
Talvez não saiba que somos os primeiros a referenciar a crueldade do desporto equestre e a começar a tirar fotografias – não apenas de cavalos “dançantes”, mas da verdade – bocas, pescoços, dor, sangue. Nós fundámos um novo género de fotografias equestres.
Alexander edita livros e produz filmes com o objectivo de despertar a consciência dos proprietários de cavalos. Pode-nos falar sobre isso?
O seu livro, editado na Rússia em 2004, ‘’The Horse Crucified and Risen - Horse Encyclopedia” (O Cavalo Crucificado e Ressuscitado – Enciclopédia do cavalo) mostra ao leitor segredos da educação do cavalo sem qualquer violência. É de firme convicção que o livro irá elevar as consciências de muitas pessoas e provavelmente tornar-se o livro principal daqueles que procuram uma forma particular e honesta de construir uma comunicação com um cavalo.
A verdade, demonstrada pelo meu marido e os seus cavalos chocou pessoas.
O mundo começou a mudar. A Escola era a consequência mais natural da recente revolução intelectual.
Como é que as pessoas conseguem informação sobre a NHE?
Toda a informação está disponível na nossa pagina web www.nevzorov-haute-ecole.com, onde você pode também encomendar os nossos livros, filmes e DVDs.
AS MEDICINAS ALTERNATIVAS :
PARA UMA CURA HOLISTICA
Revista Equitação - Outubro 2012
Nós humanos somos seres com um corpo físico mas também emocional e psicológico. Estes 3 componentes participam no nosso bem-estar. Assim como outros aspectos da nossa vida que podem ser principalmente sociais ou espirituais. A medicina tradicional chinesa, entre outras práticas curativas no mundo, considera que para curar uma pessoa, tem que se examinar todos os aspectos da sua vida, porque todos estão relacionados. Se as nossas condições de vida não são saudáveis, não vamos ter um corpo saudável. Se temos a mente confusa, ou estamos a atravessar um período complicado emocionalmente, vai prejudicar ao nosso estado físico. E assim será com todos os aspectos da nossa vida. Um bom equilíbrio físico depende dum bom equilíbrio emocional, psicológico, social ou espiritual…
No meu entender, os cavalos são muito parecidos connosco. E cuidar de um cavalo significa não só cuidar do seu estado físico mas também do seu equilíbrio global. Seguindo este raciocino, para curar um cavalo doente ou ferido, é preciso examinar os outros aspectos da sua vida, principalmente as suas condições de vida e a sua relação afectiva com o dono.
Existe uma grande variedade de medicinas e terapias alternativas para cavalos, assim como para humanos, embora em Portugal ainda se ofereçam poucas. Estas terapêuticas estão englobadas num mesmo conjunto mas possuem uma história, origem, abordagem, indicações e aplicações diferentes. Quase todas elas têm uma origem muito mais antiga do que a medicina convencional ou alopática. Em comum têm o facto de em geral tratarem o ser como um todo e não apenas a doença ou os sintomas. A doença é considerada o resultado do desequilíbrio energético do corpo que a terapia tenta restabelecer. Por isso estas medicinas usam-se muito de maneira preventiva. O objectivo é activar os mecanismos autónomos do corpo para a cura e manter ou restaurar o equilíbrio natural de um organismo saudável. Usam medicações com base natural e técnicas não invasivas que não têm efeitos secundários. Em casos de problemas crónicos e / ou casos de dor, aumentam a qualidade de vida e anulam ou aliviam a dor.
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As terapêuticas alternativas ou complementares mais utilizadas são :
A Osteopatia é uma terapia que trata restrições à mobilidade em qualquer tipo de tecido ou articulação, com a única ajuda das mãos. Esta baseada no conhecimento aplicado da anatomia, fisiologia e patologia. Mas lida com os problemas de uma maneira holística e causal : não precisa somente de tratar uma zona local, mas também o restante corpo, porque os mecanismos de auto-regulação do corpo muitas vezes equilibram alterações da estrutura existente, adaptando outras partes do corpo em função desta alteração.
A Acupunctura faz parte da medicina tradicional chinesa. Pode ser definida pela inserção no corpo de finas agulhas em pontos especificamente definidos com o objectivo de estimular, direcionar e apoiar o fluxo de energia e de substâncias de forma a activar o processo de cura do próprio corpo. Os pontos de acupunctura encontram-se em meridianos : são 12 caminhos de energia vital Qi. Cada um está relacionado com um órgão, uma emoção, um dos 5 elementos, um tecido, etc… (ex.: fígado, raiva, madeira, tendões,…).
A Homeopatia baseia-se na teoria de que o semelhante cura o semelhante. Assim usam-se doses mínimas de substâncias as quais em doses normais provocariam sintomas desta doença - para curar essa doença. Os remédios homeopáticos são constituídos por diluições feitas a partir de moléculas de plantas, animais e minerais. Actuam como estímulos muito pequenos do mecanismo de auto-cura do corpo.
A Fitoterapia é o tratamento da doença com preparações de ervas. Os medicamentos fitoterapêuticos chineses não são classificados pelas substâncias activas como as fitoterapêuticas convencionais mas pelos critérios de Yin-Yang e dos 5 elementos (fogo, terra, metal, agua, madeira). Tem quatro propriedades térmicas (quentes, mornos, frios e gelados) e cinco sabores (picante, doce, amargo, azedo e salgado).
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Outros exemplos de terapias energéticas :
O Shiatsu é uma terapia tradicional japonesa baseada na pressão e nos estiramentos. Usa-se para aliviar diferentes doenças. Fazem-se manobras nas partes afectadas ou em pontos energéticos (os mesmos que usa a acupunctura).
O Reiki é baseada na canalização da energia universal através da imposição de mãos com o objectivo de restabelecer o equilíbrio energético vital e desse modo restaurar o equilíbrio natural (emocional, físico ou espiritual) podendo eliminar doenças e promover a saúde. Mais informações no Facebook : Voluntariado de Reiki para Cavalos.
O Scavug é baseado na Sanergia, equilibrando qualquer alteração de saúde. Activa um processo de sanação ao nível vibracional e espiritual, entre a pessoa de referência e o animal.
O Quantuum Healing usa raios lazer que estimulam a capacidade de regeneração das células. O Biofeedback e um programa informático que mede múltiplos parâmetros eléctricos do corpo para reunir informações e tratar desequilíbrios tanto físicos quanto emocionais ou psicológicos. Mais informação em Facebook : Margrét Margrétardóttir Jr.
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A diversidade das terapias existentes podem deixar-nos confundidos e os tratamentos parecer-nos por vezes contraditórios. Então como escolher a melhor forma de tratar o nosso cavalo ?
Todas as terapias naturais são complementares, podemos combiná-las sem receio, porque derivam duma mesma filosofia.
Em muitos casos, as medicinas clássica e alternativa podem e devem combinar-se, especialmente para solucionar problemas graves e/ou urgentes.
Logo quando houver incompatibilidades, a escolha é muito pessoal. Cada um de nós tem que usar a sua própria intuição e sensibilidade para decidir em que médico ou terapeuta confiar, e que tratamento vai ser mais benéfico para o seu cavalo.
Sem esquecer que esta escolha só vai influenciar uma parte do processo de cura. Na realidade, o factor mais importante será sempre o estado geral do cavalo que determina a força do seu sistema imunitário, permitindo curar com maior rapidez.
Nos factores principais do estado geral do cavalo, entram as suas condições de vida assim como o seu equilíbrio emocional. Por isso o melhor seria ter o cavalo em condições próximas ao seu estado natural : espaço para se movimentar, pés descalços, companhia de outros cavalos e alimentação à base de muita forragem (Cf. ultimo artigo).
O melhor complemento alimentar possível serão as Sementes Germinadas. Porque é mais adequado ao sistema digestivo do cavalo e têm um valor nutricional muito elevado : as sementes estão repletas de enzimas e contêm também altas quantidades de fibras, proteínas, vitaminas, sais minerais, lípidos, glúcidos, ácidos nucleicos e clorofila (rebentos e relva). Mais informações em www.annwigmore.org
Outro factor decisivo no processo de cura, que muitas vezes desvalorizamos, sendo tão simples, mas essencial : é o Carinho que o cavalo vai receber, especialmente a presença do seu dono.
O AMOR CURA !
Muito obrigada a terapeuta holística Julie Hartmann pela sua colaboração neste artigo (www.equi-team.com, organiza-se um curso em Dezembro).
O ENSINO RESPEITOSO DO CAVALO : “POUCO A POUCO…”
O ENSINO DOS POLDROS ATE AOS 3 ANOS
Revista Equitação - Dezembro 2013
Em geral, usamos a palavra “domar” um cavalo para descrever o processo que permite chegar a montar um cavalo pela primeira vez e conseguir que avance nos 3 andamentos (passo, trote, galope) na direcção desejada. O que comummente se chama de “desbaste” e por o cavalo a “andar para diante”.
Para mim, “domar” um cavalo é: estabelecer uma relação e ensinar-lhe um código de comunicação para partilhar o que desejarmos com ele, com o respeito, o amor e a confiança.
Então, este processo não tem outro principio nem fim que o nascimento e a morte do cavalo.
Por isso é necessário decompor o processo de desbaste em várias etapas correspondentes às etapas de vida do cavalo, que desenvolveremos em vários artigos:
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A educação e o maneio dos poldrinhos (até 1 ano) e dos poldros (até aos 3 anos)
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A preparação as primeiras montas
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A monta e o treino dos cavalos jovens
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O aperfeiçoamento e a recuperação dos cavalos adultos
O desbaste não é uma ciência exacta. Visto que trabalhamos com um ser vivo e que cada um é um individuo diferente, não podemos adotar um processo universal nem aplicar um método único a todos os cavalos. Igualmente, não se pode definir uma idade nem uma duração para lhe ensinar tal ou tal coisa. O processo de desbaste tem que ser personalizado. Na realidade tudo depende de muitos parâmetros:
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O carácter do cavalo
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A sua morfologia
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As suas condições de vida
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A sua relação com o dono
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Os objectivos do dono
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As aptitudes do dono
Por consequência, a técnica é necessária mas é a experiência e, sobre tudo, a sensibilidade e a intuição do desbastador que lhe permite saber quando e como pedir o quê a um cavalo. Não há nenhuma regra que funcione para todos os cavalos, da mesma maneira que nós, seres humanos, seguimos processos de aprendizagem diferentes e uma metodologia que nos convenha mais ou menos que outra.
O ENSINO DE CAVALOS É UMA ARTE. NÃO É UMA CIÊNCIA EXACTA.
Qualquer processo de desbaste sendo mais fácil, rápido e agradável sem conseguirmos a confiança do cavalo, a prioridade a esta idade em que se define o carácter do poldro é estabelecer uma relação de confiança, amor e respeito com ele. Tudo o que lhe acontece, especialmente nos primeiros meses, quando está mais moldável, ficará gravado na sua memória toda a sua vida. Além disso o poldrinho, como qualquer bebé, necessita receber amor e protecção.
Então é imprescindível mimá-lo muito e fazer com que se sinta em segurança ao nosso lado. Assim se ganha a sua confiança: ensinando-lhe afecto e reconfortando-o quando algo o assusta.
Desmamar um poldro é um trauma para ele. Imagine-se um bebé humano a quem lhe é retirada a sua mãe de um dia para o outro ao ano e meio de idade, o que corresponde aos 6 meses do poldro! Então é preferível primeiro esperar que tenha pelo menos um ano, oferecendo-lhe comida à vontade além de o deixar mamar. De seguida preparar a separação acostumando-o pouco a pouco a afastar-se da sua mãe cada vez mais longe e mais tempo, e a sentir-se confortável com a companhia de outros poldros ou cavalos.
Logo é importante estabelecer em seguida as regras de segurança: não pisar, não morder, não dar coices. Estas regras se terão que reafirmar ao longo do seu crescimento, ao mesmo tempo que vão fortalecendo o seu carácter e terá vontade de comprovar estas regras. Mas é muito mais fácil com um potro que pesa pouco e não tem o carácter afirmado. Mesmo se um poldrinho que brinca com a boca tem graça ou se quando nos empurra parece um gesto inocente, há que estabelecer limites muito claros desde o princípio. Assim se previnem acidentes e se estabelece a hierarquia.
NA PRÁTICA COM UM POLDRINHO : MANEIO E SEGURANÇA, COM AMOR E CONFIANÇA
Para preparar todas as situações nas quais nos encontramos logo com ele, se pode começar pouco a pouco, ao longo dos seus dois primeiros anos de vida, a acostumar-se a muitas situações de maneio.
Por uma parte o maneio do poldro:
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Deixar-se tocar em todas partes, especialmente as orelhas, a boca, os olhos e as partes genitais (facilitará o trabalho do veterinário e do dono quando tiver que fazer curativos)
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Dar as mãos e os pés (para os limpar e felicitar as primeiras visitas do ferrador)
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Colocar um cabeção e uma manta
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Seguir-nos apanhado no campo
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Ficar quieto ao nosso lado ou atado
Por outro lado retirar medos instintivos a tudo o que podemos imaginar:
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Leva-lo a sítios desconhecidos
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Sociabiliza-lo com outros animais (especialmente com cães)
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Que não se assuste com o vento nem de todos os tipos de veículos
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Passar ao lado de tecidos ou plásticos (ou por cima)
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Pisar poças e atravessar rios
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Subir num reboque
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Etc…
Quando o poldro se aproxima dos 3 anos, ganha cada vez mais força e capacidade de concentração e pode-se-lhe pedir sessões de trabalho cada vez mais alargadas.
A prioridade de segurança da pessoa que o leva é que o cavalo pare quando lhe é pedido. Então, é o primeiro exercício que lhe pediremos. Naturalmente o cavalo que está acostumado a seguir-nos apanhado com um cabeção para a nosso lado se pararmos. Mas pode-se reforçar esta sintonia usando a voz (elegendo una palavra ou um assobio com um tom de voz baixo, como por exemplo: BOOoooo…). Assim que recompensa a paragem com um prémio ou uma carícia para fazer o poldro entender que fez bem, que era isso que queríamos. Pode-se também associar uma acção mecânica ao princípio, dando uns toques suaves com a guia para baixo, para que o cavalo a relacione com a ordem de parar. Mas rapidamente a acção não será necessária, excepto em casos de desobediência.
Basicamente até aos 3 anos é-lhe pediremos só um trabalho desmontado, para respeitar o seu ritmo de aprendizagem e crescimento, sem forçar nunca para que o processo seja agradável para ele. Quanta mais pressa temos, mais erros cometemos e mais problemas geraremos… Veremos no próximo artigo como preparar as primeiras montas conseguindo a colaboração do cavalo.
O DESBASTE DOS CAVALOS JOVENS ( 3 ANOS)
PREPARAÇÃO ÀS PRIMERAS MONTAS
Revista Equitação - Fevereiro 2013
Vimos no último artigo que educar um poldro implica mima-lo muito, ensinar-lhe as regras de segurança e focar-se no trabalho de maneio desde o chão. Agora veremos como prepara-lo para as primeiras montas, para que o processo lhe seja fácil e agradável.
QUANDO COMEÇAR A MONTAR UM CAVALO
Durante a juventude do cavalo, o objectivo do processo de desbaste é conseguir a sua confiança e o seu respeito, dando-lhe amor e segurança e estabelecendo a hierarquia. Para que o cavalo possa aprender, é imprescindível conseguir e manter a sua calma e a sua atenção. Se não o alcançamos, não faz falta pedir mais nada porque o cavalo não estará disposto a trabalhar.
Não há uma idade precisa para todos os cavalos para começar a monta-los. Dependendo da sua maturidade e das suas capacidades de concentração, será entre os 3 e os 4 anos. Mas o desbaste tem que ser um processo contínuo, preparando o dia da primeira monta com exercícios de puro maneio durante os seus primeiros anos de vida e logo com exercícios de flexibilidade, equilíbrio e musculação à guia durante alguns meses. Igualmente quando conseguimos que o cavalo aceite o cavaleiro em cima das suas costas, continuaremos a trabalhar à guia, aumentando pouco a pouco o tempo de monta a cada sessão de trabalho.
SABER PARAR
Para assegurar o êxito do processo de desbaste em general, que a aprendizagem seja agradável tanto para o cavalo como para o cavaleiro, o segredo é saber quando parar. Deixaremos de pedir qualquer coisa se observamos qualquer tensão, que seja por :
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Desanimo por Aborrecimento ou Sobrecarrega
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Medo, Ansiedade ou Stress
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Rebeldia
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Perda de atenção (ou concentração)
Temos que entender que se o cavalo não faz o que lhe pedimos, não é porque é mal-intencionado. Então se queremos resolver qualquer problema, temos que procurar a sua causa em vez de ficar obcecado e zangado.
Se não paramos no bom momento, vamos chegar a um conflito. Chegaremos a lutar com o cavalo e ficaremos os dois com uma má recordação. Então, tiraremos a vontade de trabalhar ao cavalo e é provável que tenhamos que dar um passo para atrás no processo de aprendizagem.
Com esta mesma lógica, pediremos pouco a cada sessão, começando com sessões de trabalho de 5 o 10min para chegar a 45min quando o cavalo estiver treinado.
MAIS LENTO ! MAIS SEGURO !
Como reagir quando observamos uma tensão?
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Sobre tudo : parar! Não forçar o cavalo
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Fazer entender ao cavalo que “não fez bem” com uma voz firme adequada ao nível da desobediência que o cavalo mostrou. Mas tem que ser uma reacção imediata e momentânea.
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Em seguida: tranquilizar e reconfortar. Isto pressupõe que conseguimos mantermo-nos quietos, qualquer que seja a situação, aguentando a nossa própria frustração e controlando os nossos nervos…
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Continuar a animar o cavalo. Pedir-lhe com paciência e perseverança o mesmo que estávamos a tentar conseguir quando surgiu o problema, mas revendo o nosso objectivo em algo mais simples que o cavalo seja capaz de realizar, a fim de acabar a sessão com algo positivo. Também temos que ser imaginativos para inventar outra maneira de chegar ao nosso objectivo, sem voltar a passar pelo ponto de bloqueio. Se realmente nos é impossível concretiza-lo, mudar de objectivo para algo mais básico que o cavalo fará sem esforço.
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Recompensar o mínimo esforço com uma voz doce, uma carícia ou um prémio.
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Não pedir nada mais até outro dia.
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A próxima sessão de trabalho : voltar a pedir o que bloqueou, decompondo em etapas mais fáceis de conseguir e antecipando a reacção do cavalo.
TECNICA Á GUIA COMPRIDA
Uma vez conseguida a confiança e o respeito mútuos, que as regras de segurança estão claras, que o cavalo colabora sem resistência em todos os exercícios de maneio (limpeza, deslocamentos vários, andando a seu lado à mão, paragens, calma em qualquer sítio), podemos começar o processo de doma a pé, à guia comprida.
Objectivos:
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Deslocar-se num círculo de raio constante à nossa volta
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Transitar ao passo, trote e galope com calma e regularidade
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Alongar-se com o nariz no chão para se relaxar e se muscular
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Praticar exercícios de flexibilidade e equilíbrio
ANDAR NUM CIRCULO
Para acostumar o cavalo que só sabe andar a nosso lado quando à mão, primeiro há que lhe explicar que agora queremos que se afaste de nós. Isto consegue-se actuando sobre as espáduas dos cavalos e não sobre os seus posteriores. Assim, só estaríamos a convida-lo a girar os posteriores sobre as espáduas, e o cavalo continuará pegado a nós, olhando-nos sem entender o que lhe pedimos. Para afastar as espáduas, só faz falta fazer algum gesto suave como para manda-lo embora e felicitar o primeiro passo para fora. Logo, como lhe havemos ensinado anteriormente as ordens à voz praticando andando a seu lado, conseguiremos rapidamente que vá ao passo e que pare quando lhe pedimos com as mesmas ordens de voz, afastando-se cada vez mais de nós até desenhar um círculo de 5 a 8 metros.
TRANSIÇÕES AO TROTE E AO GALOPE
Para sair ao trote e ao galope, há que definir novas ordens de voz (“TROT” e “GALOP” por exemplo), com um tom de voz mais energético. Podemos associar as nossas ordens com movimentos das nossas pernas para exemplificar o trote ou o galope, porque o cavalo aprende também por imitação.
Podemos ajudar-nos com um “clac” do chicote comprido ou dirigi-lo aos posteriores para lhe pedir para andar mais rápido ou animá-lo quando diminui a velocidade. Podemos também usar o chicote actuando em direcção as espáduas ou à frente delas, para afastar o cavalo ao princípio ou manter a boa distância quando esta em círculo. Se pode conseguir igualmente provocando ondulações da guia direcionadas à sua cabeça.
ALONGAR-SE
É importante deixar encorajar o cavalo a alongar o pescoço até ter o focinho no chão, a fim de esticar a sua coluna, flexibilizar o seu dorso e muscular os seus lombares.
BUSCAR A RECTITUDE VERTICAL
É importante vigiar constantemente a sua espádua interna, buscando a rectitude vertical do cavalo e lutando contra a sua atitude natural de cair sobre a espádua interna, afastando o posterior externo. Por isso lhe pediremos que pare recto no círculo, sem se voltar para nós e praticaremos flexões.
E se o cavalo não responde à ordem de paragem é possível dar toques com a guia ou avançar em direcção à sua cabeça, seguindo-o numa linha recta.
Uma vez conseguido que o cavalo pare, saia ao passo, trote, galope com calma e regularidade à guia comprida, podemos começar a montá-lo e continuar a praticar os exercícios de relaxação, flexibilidade, equilíbrio e musculação a pé. Veremos no próximo artigo as etapas que permitem montar o cavalo e como treiná-lo até aos 8 anos, quando se torna um cavalo adulto maduro.
CAVALOS JOVENS (4 ANOS)
PRIMEIRAS MONTAS
Revista Equitação - Abril 2013
O ser humano monta o cavalo há milhares de anos. Por isso parece-nos normal subir-lhe para cima. Mas a natureza não o fez morfologicamente nem psicologicamente para suportar o nosso peso e satisfazer os nossos desejos ou necessidades… Na realidade se queremos montar a cavalo, temos que tomar consciência que é um favor que ele nos faz e tomar o tempo necessário para o preparar fisicamente e conseguir a sua colaboração sem o magoar.
Temos visto nos últimos artigos como conseguir a calma e a confiança do cavalo durante os seus primeiros anos de vida. Logo começamos a fase de preparação física com exercícios de flexibilidade, equilíbrio e musculação à guia comprida. Por fim vamos detalhar a fase que permite ao cavalo aceitar o cavaleiro em cima das suas costas sem gerar resistências ou conflitos. Nesta etapa o cavalo terá mais ou menos 4 anos. Já não é um poldro mas não amadureceu totalmente e seguramente continuará a se assustar muito e lhe custará a se concentrar muito tempo. Então teremos que continuar a reforçar o nosso papel de guia e começar com sessões muito curtas (5 ou 10 min). Igualmente o cavalo estando numa idade parecida à da “crise de adolescência” para nós, terá tendência a provar os limites e teremos que reforçar a nossa hierarquia.
Advertência:
Escolher um lugar seguro : uma cerca, ou seja, restrito (idealmente tão pequeno que o ajudante não tenha que soltar a guia se o cavalo sair disparado), sem qualquer elemento (pedras na chão, pontas nas vedações,…) que possa ferir gravemente o cavaleiro se cair do cavalo.
Montar a cavalo nem mesmo lidar com cavalos do chão, é uma actividade que nunca será totalmente isenta de risco de acidente, qualquer que seja o cavalo e o desbastador ou o tratador. É impossível garantir 100% de segurança. Mesmo se se pode reduzir o risco com cavalos tranquilos, lugares seguros e professores experientes. Quanto mais conscientes estamos dos riscos, melhor saberemos antecipar e evitar os acidentes. Todos os bons cavaleiros já caíram muitas vezes antes de conseguir ficar em equilíbrio em qualquer situação. Faz parte do processo de aprendizagem ! E na grande maioria dos casos as quedas só provocam um bom susto com hematomas.
Não recomendo a ninguém tentar desbastar um cavalo sem ter muita experiência com muitos cavalos. Desbastar um cavalo não é um jogo para se divertir ou passar o tempo. Não basta amá-lo para o conseguir. Há que conhecer bem a natureza do animal e desenvolver uma série de qualidades que só se adquirem com a experiência.
PRIMEIRAS MONTAS
Não se esqueça que o cavalo não nos vê quando nos sentamos em cima dele, porque estamos fora do seu ângulo de visão. Então pode-se assustar mais facilmente.
Precisaremos da ajuda de uma pessoa que o leve com uma guia comprida. Cuidaremos de o acostumar pouco a pouco:
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Primeiro a usar a sela se necessitarmos dela (por segurança ou equilíbrio). Deixando o cavalo cheirá-la, pondo-a lentamente em cima dele, apertando-a muito progressivamente e fazendo-o andar e trotar à guia comprida larga sem deixar os estribos bater nas suas costelas. Mas é melhor para o cavalo se podemos monta-lo em pelo.
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Depois a sentir o nosso peso pondo-nos em cima com a barriga na coluna, as pernas e as mãos pendurando de cada lado do cavalo, tocando-o de todas as partes (inclusivo na garupa) para acostuma-lo a notar as nossas pernas e os nossos movimentos. Melhor auxiliar-se, nesta etapa, de uma cadeira, um banco ou um muro para nos pôr em cima sem o desequilibrar.
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Sentar-nos-emos sem levantar-nos, quedando-nos com a cabeça em cima do seu pescoço, deixando-o voltar o pescoço para cheirar os nossos pés e olhar-nos para se reconfortar.
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Por fim sentar-nos-emos verticalmente para que entenda que não acontece nada se estamos mais altos que ele.
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Então podemos começar a pedir-lhe para sair ao passo, ao trote e parar, usando as mesmas ordens de voz que quando praticámos à guia comprida.
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Também lhe ensinaremos a voltar actuando com as respectivas rédeas.
O hábito que consiste em ensinar ao cavalo a afastar as mãos dos pés para baixar as suas costas e por consequência permitir que o cavaleiro chegue mais facilmente ao estribo para montar, prejudica o dorso do cavalo que está mais débil nesta posição para aguentar o peso do cavaleiro.
Uma vez o cavalo esta acostumado a levar-nos acima e responde bem com a ajuda da pessoa andando a seu lado, ela se porá cada vez mais longe, até tirar a guia para deixar o cavalo escutar somente o seu cavaleiro. Igualmente as ordens de voz serão dadas pelos dois ao princípio e logo só o cavaleiro. E logo praticar em espaços mais amplos até em plena natureza.
Treino :
Qualquer seja a disciplina que o dono queira praticar, é importante continuar a trabalhar a flexibilidade e o equilíbrio do cavalo à guia comprida, para a sua própria saúde. Pode ser toda a vida do cavalo se queremos treina-lo a um nível alto de competição, da mesma forma que um atleta continua a fazer alongamentos e exercícios de aquecimento a cada sessão de treino. Ademais, estes exercícios permitem relaxar o cavalo antes de o montar.
Uma boa base de ensino clássico sempre ajudará o cavalo a nível técnico e ao cavaleiro a nível da comunicação.
Antes de começar a cessão de trabalho, se o cavalo estiver numa boxe, também recomendo solta-lo no picadeiro para que possa libertar a sua energia e as suas tensões corporais e emocionais.
E levar o seu cavalo a passear permitirá ao cavalo divertir-se e melhorará o seu estado de espírito.
Para que o processo de aprendizagem seja agradável, sempre iremos pouco a pouco, adaptando os seus objectivos ao estado físico e emocional do cavalo nesse dia, usando o reforço positivo, procurando perante tudo a calma e sabendo parar antes de chegar a um conflito.
Agora é praticar com os vossos cavalos, é desfrutar e agradecer os momentos partilhados! O cavalo é um animal maravilhoso e generoso que sempre ajudou o ser humano e sempre o fará. O seu bem-estar depende de vós, é vossa responsabilidade em agradecimento a tudo o que ele vos pode oferecer...
No próximo artigo, desenvolveremos o tipo de comunicação (qualidades do cavaleiro e códigos estabelecidos) que se pode conseguir montando.
No mês de Maio, proporemos um curso sobre o tipo de ensino alternativo descrito nos últimos artigos, começando pela educação dos potros. Consultar Epona.
UM COCKTAIL DE MUITO AMOR E PACIÊNCIA
COM UMA JUSTA DOSE DE DETERMINAÇÃO E SEGURANÇA EM SI PRÓPRIO…
Revista Equitação - Junho 2013
As heranças da nossa historia e da nossa cultura nos ensinam a montar a cavalo desenvolvendo a submissão, a dominação, a exigência, a obediência, a obrigação, a força,… e outras características que nos permitem controlar o cavalo e impor-lhe a nossa vontade para chegar ao nosso objectivo.
Ao contrário, a minha definição duma “boa” relação com o cavalo é : uma relação HARMONIOSA, que satisfaça os desejos e as necessidades das duas partes, com respeito, confiança, cumplicidade, subtileza… e outras características que permitem aos dois desfrutar dos momentos compartilhados. Para chegar a este tipo de relação, primeiro fazem falta muito amor e paciência.
O cavalo, pela sua grande generosidade, fará todo o que lhe pedimos se cumprimos as seguintes regras :
1_ Não o magoar (nem física, nem psicologicamente),
2_ É capaz de fazê-lo (física e emocionalmente),
3_ Esta explicado claramente,
4_ Não vamos abandonar,
5_ Estará recompensado.
Para respeitar a regra n°1, temos que nos pôr no lugar do cavalo, imaginando se vai gostar do que lhe estamos a propor ou se o vai magoar a nossa maneira de lhe pedir; deixando do lado os nossos desejos egocêntricos humanos se nos apercebemos que vamos a gerar um sofrimento. Assim é como se consegue a base duma “boa” relação : com CONFIANÇA. O cavalo, sendo um animal gregário e medroso, necessita sentir-se guiado, protegido e reconfortado.
Para respeitar a regra n°2, temos que saber observar e “escutar”, com atenção e empatia. Só se consegue num estado de presença (estar “aqui e agora”) e de relaxação (procurando a “paz interior”), desconectando a mente para poder SENTIR E INTUIR o que se pode pedir ao cavalo num momento dado.
Para respeitar a regra n°3, temos que ter objectivos claros e saber usar a própria linguagem do cavalo, incluindo a LINGUAGEM CORPORAL, que é a principal ferramenta de comunicação do cavalo, mas também a VOZ que pode substituir muitas acções mecânicas. A mais, o cavalo é muito sensível a ENERGIA que lhe mandamos através da nossa maneira de mexer o nosso corpo e da entonação da nossa voz.
O cavalo é um animal muito sensível e percebe perfeitamente as nossas emoções e as nossas intenções, mesmo se não estamos conscientes delas. Então, temos que aprender a controlar as nossas próprias emoções (tal como o stress, o medo ou a raiva), procurando a SERENIDADE.
Para respeitar a regra n°4, temos que combinar DETERMINAÇÃO E PACIÊNCIA. Aprender a seguir o ritmo da natureza, onde nem tudo se consegue tão rápido como queremos. Perseverar nas nossas petições, sempre com CALMA. Incitar em vez de obrigar para evitar o conflito com um animal tão poderoso. Seguir a pedir o tempo que faz falta até convencer o cavalo, e desenvolver as suas aptidões físicas.
Para respeitar a regra n°5, temos que usar o REFORÇO POSITIVO. Ânimos, felicitações, festas e prendas fazem maravilhas. Recompensar o mínimo esforço para preservar a vontade de trabalhar juntos. Pedir pouco para assegurar boas lembranças. Trabalhar tempos curtos em cada sessão evita o aborrecimento.
LIMITES DE SEGURANÇA
Igualmente, se conseguirmos desenvolver estas qualidades todas, o cavalo não deixa de ser um animal que se pode tornar perigoso pelo seu tamanho e as suas reacções imprevisíveis nalgumas circunstâncias nas quais o seu instinto vai prevalecer sobre a sua educação.
Por isso nos faz falta CONFIANÇA EM SI-PRÓPRIO. A prioridade é a segurança (de nós mesmos, do cavalo, dos outros, assim como dos bens materiais), e temos que encontrar a maneira de IMPOR LIMITES , SEM NOS CHATEAR nem recorrer a violência, que deve ficar como ultimo recurso em situações urgentes de perigo. O ideal é sempre ANTICIPAR estas situações para ter tempo de reagir de maneira firme mas suave.
O primeiro “castigo” do qual dispormos, e o mais etológico sendo parte do seu próprio modo de estabelecimento da hierarquia entre eles, é : mandar EMBORA o cavalo. Consegue-se gesticulando com os braços levantados e acercando as mãos a seus olhos, gritando e andando francamente em direcção ao cavalo. Temos que cuidar de medir a nossa energia segundo a gravidade da situação e a assustabilidade do cavalo, assim como voltar a calma em seguida. O cavalo vive no INSTANTE PRESENTE, a nossa reacção tem que ser imediata, clara, sem raiva e de pouca duração.
Outro tipo de “castigo” quando estamos montados é : o GIRO. Se o cavalo não esta a responder, até se descontrolar : estirar uma rede para colocar o focinho na espádua provoca um giro tão apertado que o cavalo se para.
Noutras situações de “desobediência” sem perigo, primeiro comprovar as regras 1, 2 e 3 com a HUMILDADE necessária… Depois fazer perceber ao cavalo que não está a fazer o correcto com um “NÃO” vocal tranquilo ou um círculo se estamos a montar, e voltar a regra 4 para poder acabar com a 5 !
O CAVALO É O NOSSO MESTRE EM COMUNICAÇÃO. E PODEMOS APLICAR TUDO O QUE APRENDEMOS COM ELE NA NOSSA VIDA QUOTIDIANA, PESSOAL OU PROFISSIONAL …
Por fim, se queremos chegar a uma boa relação com o cavalo, temos que respeitar as suas necessidades e procurar o seu bem-estar. Não é só procurar a sua boa saúde, mas também a sua felicidade, através de condições de vida etológicas (espaço, forragem, manada). Não é só montar, mas também dedicar tempo ao seu cavalo para estabelecer uma amizade com ele, compartilhando com ele actividades que gosta… : levá-lo a pastar ou a passear a mão, a tomar uma duche, acariciar-lhe ou fazer-lhe massagens, coçá-lo, trazer-lhe guloseimas,…). Assim sendo, na hora de trabalhar, a comunicação e atenção que conseguimos serão muito melhores!
Esses artigos foram escritos há vários anos e mudei a terminologia relativa as relações que estabelecem entre eles. Não falo mais de hierarquia, já que não quero utilizar o conceito de dominância tal como os humanos o concebem. Segundo os estudos mais recentes dos etólogos, e as minhas observações concordam com elas, a "dominância" é unicamente circunstancial entre cavalos. Numa manada, qualquer um pode tomar decisões e será seguido se os outros acreditam que é o individuo mais qualificado ou mais determinado para tomar essa decisão nesse momento. Então as minhas conclusões no que refere as consequências dos rituais de primeiro encontro entre 2 cavalos inteiros são as seguintes :
Eles nesse breve período de "jogos" o "briga" inicial, definem 2 coisas : se serão amigos e se um deles será o protetor do outro. Se escolhem ser amigos, ficaram no mesmo grupinho para sempre. Obviamente 2 cavalos de carácter "protetor" não chegaram a ser amigos no ponto de andar sempre juntos, e repetiram os seus rituais com menos intensidade cada vez que se cruzam no campo, para reafirmar a sua posição.
FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS
Rituais hierárquicos e Consequências
Revista Equitação - Março 2014
É excecional ver cavalos inteiros juntos, e muito pouca gente no mundo lhes permitem esta convivência. Normalmente deixam-se juntos os machos só até começar o desbaste, e depois estão fechados em boxes para treina-los ou para servir como garanhões. Eu decidi experimentar juntar os meus cavalos inteiros e estão a viver felizes e saudáveis em grupos no campo.
O cavalo inteiro é sempre considerado mais perigoso que uma égua ou um cavalo castrado, por isso está condenado a viver fechado numa boxe e isolado dos outros cavalos. Mas na realidade, o cavalo inteiro tem as mesmas necessidades que qualquer cavalo ! E se lhe oferecemos condições de vida etológicas e ecológicas, tirando alguma exceção devido principalmente a historia do cavalo, torna-se um cavalo tranquilo e sociável. Porque quanto mais isolado e imobilizado esteja, mais frustrado e nervoso fica.
Como já vimos noutro artigo, é essencial para o equilíbrio emocional e físico dum cavalo, ter espaço para se movimentar, estar a mastigar o dia todo uma comida a base de forragem ou pasto natural, e ter companheiros equinos com os quais se relacionar. Se não estiverem respeitadas estas necessidades, o cavalo desenvolve problemas de saúde assim como comportamentos nervosos ou agressivos, por consequência duma carência afetiva e social.
A maioria das pessoas pensam que se juntarem cavalos inteiros, iam simples e radicalmente matar-se ! Pela minha experiência, comecei a juntar os meus 8 cavalos inteiros há 8 anos atrás. Fi-lo com precaução, pouco a pouco, experimentando vários grupos de 2, logo de 4 até ter os 8 juntos. Agora tenho 14 cavalos machos em vários grupos. Tive a oportunidade de observar as reações e convivência de cavalos de vários tipos de idades e carateres, em vários tipos de circunstâncias (presença ou vizinhança de poldros, castrados ou éguas). E quero partilhar com vocês agora as minhas observações e conclusões…
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Porque os cavalos inteiros brigam mais ?
Em geral, é mais complicado lidar com ou treinar cavalos inteiros :
ü Primeiro, qualquer animal castrado deixa de ser influenciado pelas suas hormonas que alteram as suas emoções. Por isso, um animal castrado é sempre mais estável, constante no seu comportamento, mais previsível, tranquilo e pacifico. A tendência comum é esta, mesmo não sendo uma regra geral porque sempre depende do animal.
ü Segundo, porque um animal inteiro (macho ou fêmea) sempre será guiado pelo seu instinto de reprodução e ficará mais pendente dos seus congéneres em períodos de fertilidade das fêmeas.
Terceiro, porque um garanhão, na natureza, é responsável pela segurança da sua manada e a preservação da sua espécie. Por isso, estará sempre em estado de vigilância, à espera da chegada dum predador ou dum rival que queira roubar-lhe as suas éguas; e estará pronto a defender. Por isso é mais inseguro, agitado, reativo, e preparado para o ataque. O cavalo inteiro, por instinto de sobrevivência, tem que demostrar que é o mais forte e o mais bonito ! E aceita mais dificilmente submeter-se.
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Que acontece então quando 2 cavalos inteiros se juntam ?
Vão sistematicamente avaliar-se, através de rituais e atitudes muito bem codificados, para definir a hierarquia entre eles dois. Estas avaliações serão breves, teatrais, barrulhentas e de intensidade crescente até um dos dois desistir.
Descrição dos rituais de avaliação por grau de agressividade :
Desafios à distância :
ü O cavalo cheira os cocós dos outros, faz cocó em cima dum monte, e vira-se para cheirar o seu próprio cocó.
ü Rasga o chão com uma mão, impaciente por se encontrar com o outro, chamando a atenção.
ü Cheira-se a si próprio debaixo dos braços.
ü Emite um grito específico agudo.
ü Mostra-se o mais bonito e alto possível, colocando a sua cabeça verticalmente com a nuca alta, elevando as suas espáduas e baixando a sua garupa, oferecendo um espetáculo ao passaje.
Contacto sem agressão :
ü O primeiro contacto é imóvel, frente a frente ou de lado com a cabeça virada para soprar no nariz do outro; ou cheirando as partes genitais ou também debaixo dos braços do outro.
ü Os cavalos empurram-se com a cabeça ao nível da barriga do outro.
ü Depois dum tempo a cheirar-se (alguns minutos), começam a gritar e a lançar uma mão bem alto na sua frente (como efetuando um passo espanhol), ou levantam-se sobre os posteriores, batendo o ar com as mãos.
ü Um cavalo coloca o seu pescoço acima das costas do outro.
Agressões :
ü Os cavalos tentam ajoelhar ou deitar o outro, mordendo-lhe as pernas ou as mãos.
ü Agarra o garrote do outro com a boca e empina-se para o deitar no chão.
ü Atira-se bruscamente acima de qualquer parte do corpo do outro para lhe morder.
ü Vira-se rapidamente e da coices para se defender duma mordidela.
ü Agarrarem-se um ao outro com os braços depois de se empinarem sobre os posteriores.
Finalização :
ü Depois de alguns minutos destes rituais muito teatrais, um dos dois começa a correr e saem os dois numa corrida.
ü Depois podem ou não repetir estes rituais, até o perseguidor deixar de correr atrás do perseguido, e os dois desinteressarem-se pela briga.
ü Começam a dar sinais de relaxação : lamber-se, bocejar, procurar comida, rebolar-se…
O tempo e a intensidade dos rituais depende do carater de cada cavalo e das circunstâncias. Mas na maioria dos casos, se as condições do encontro estiverem adequadas (descritas no próximo artigo : espaço, ausência de éguas, etc…), não chegam a ferir-se. Trata-se mais de atitudes e gritos para impressionar o adversário, onde rapidamente (15 a 20mn) um dos dois desiste e tenta fugir do outro para demostrar a sua submissão.
Durante os dias a seguir vão repetir estes rituais de vez em quando, com duração e intensidade muito limitadas, para reafirmar a sua posição.
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Consequências dos rituais :
Depois de um encontro, assim como durante a convivência dos cavalos no campo, o tipo de feridas que observei foram superficiais :
ü As mordidelas provocam : pelo arrancado, por vezes um pouco de pele, e mais raramente um corte linear pouco profundo. O pelo nestas zonas volta a crescer mais escuro nos cavalos russos.
ü As mordidelas e os coices provocam hematomas que muito raramente se transformam em abcesso. Em alguns casos, observei também fibras musculares partidas, que não estorvaram nenhum movimento do cavalo, mas deixaram uma irregularidade no músculo à superfície do corpo.
ü No caso de brigas mais fortes, noutras situações que descreverei no meu próximo artigo (quando há competição pela presença duma égua ou de poldros), observei alguns cortes mais fundos e tive que chamar um veterinário para cozer o cavalo.
Nunca observei feridas graves que acabassem por diminuir a mobilidade dum cavalo, temporariamente nem permanentemente. Não estou a dizer que não pode acontecer, mas que nunca me aconteceu. E considerando o número de cavalos que juntei, e o tempo que ficaram juntos, posso dizer que a probabilidade é muito baixa, respeitando algumas regras. Sempre pode haver má sorte, em qualquer circunstância da vida de qualquer cavalo. E um coice que bate mais forte ou num lugar mais frágil, pode chegar a aleijar o cavalo, ou ele próprio pode fazer um movimento mal controlado e torcer uma articulação. Mas as feridas mais graves que tive com os meus cavalos não foram devido a encontros ou brigas.
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Em conclusão, os numerosos encontros e brigas que presenciei nunca provocaram feridas graves que pusessem em risco a vida do cavalo e a sua funcionalidade. As consequências só foram estéticas.
Por outro lado, tenho cavalos felizes, calmos e equilibrados, que são mais fácies de manejar e de treinar. Por isso a minha escolha é esta de ter cavalos inteiros juntos no campo. Monto e dou aulas de equitação sem ferro na boca e em pelo, e trabalho em sessões de terapia no chão com eles. E oferecem-me todos os dias espetáculos com as suas brincadeiras e corridas, que me trazem imensa satisfação !
No próximo artigo, veremos como proceder para juntar cavalos inteiros, como se relacionam entre eles no dia-a-dia, e como reagem a estímulos esternos perturbantes.
FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS
Procedimento e Vida Social
Revista Equitação - Maio 2014
No artigo anterior, vimos o que acontece quando juntarmos cavalos inteiros, e porque optei por permitir viverem juntos. Neste artigo vamos explicar quais são as condições que garantam uma segurança máxima quando os apresentamos pela primeira vez e o processo para introduzir um cavalo novo num grupo. Também descreveremos a relação amigável que estabelecem no dia-a-dia e como se pode alterar segundo as circunstâncias.
COMO JUNTAR DOIS CAVALOS INTEIROS : procedimento e precauções
Características do lugar de encontro :
ü Espaço o maior possível, para que possam correr; assim como o mais limpo e plano possível, para não arriscar uma queda e/ou uma ferida quando um foge do outro ou quando se empurram.
ü Limites sem ângulos fechados (mais de 120º), onde um poderia encurralar o outro e bater nele sem que o outro possa fugir, exceto partindo a vedação.
ü Terreno sem queda brusca (só pendentes suaves), sem obstáculos nem buracos, e sem zonas onde possam escorregar (barro, betão,…) porque vão fazer acrobacias sem olhar onde pisam.
Meteorologia :
ü As condições meteorológicas influem muito sobre o estado emocional dos cavalos. Por isso, esperaremos um dia sem muito vento ou chuva, que os torna mais inquietos e nervosos. Também não convêm um dia de muito calor porque vão correr e suar.
ü Se forem dias com noites frias, ter o cuidado de junta-los cedo durante o dia para puderem secar antes da noite.
Outras recomendações :
ü Juntar independentemente os cavalos 2 a 2 numa primeira fase.
ü Eliminar os fatores de agressividade a volta : presença de éguas, castrados ou poldros.
ü Deixar uma cabeçada posta e apertada o mais baixo possível para limitar a abertura da boca e então a capacidade de fazer feridas fundas, mordendo-se.
ü Ficar perto com um chicote para poder afasta-los se for preciso (especialmente no caso que um dos cavalos encontrar-se no chão e o outro vir por acima dele).
ü Os cavalos devem estar desferrados para limitar o impacto dos coices e manotaços.
ü Escolher o início do dia para ter mais horas de luz para os observar.
Previamente ao encontro :
ü Dar a oportunidade a cada cavalo individualmente de explorar o lugar do encontro, antes de junta-los.
ü Deixa-los em espaços vizinhos e separados pelo menos de 3 metros para que possam ver-se, cheirar-se, avaliar-se à distância e habituar-se à proximidade do outro. Não recomendo pô-los em espaços distintos que estejam separados só por uma vedação única, porque se chegam a se tocar com a cabeça, vão começar a brincar e podem partir a vedação ou se magoar com ela. Também se pode habitua-los a trabalhar juntos ou a ficar em boxes vizinhas.
COMO FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS :
ü Os rituais seguem durante uns poucos dias, decrescendo em frequência e intensidade, até os dois cavalos voltarem a sua rotina : pastar e descansar. As brigas fortes demoram pouco, e é melhor deixa-los juntos depois do primeiro encontro, porque se os separamos antes que a relação esteja estável, voltarão a avaliar-se com a mesma intensidade ao próximo encontro.
ü Quando observarem que a relação se tornou pacifica, podem introduzir outro cavalo no grupo. Quando se juntam mais de dois cavalos, cada um vai avaliar-se com cada outro e estabelecer a hierarquia entre eles dois, independentemente dos outros. Por isso, e também para puder intervir mais rápido se fosse preciso, é preferível apresenta-los 2 a 2 antes de juntar mais de dois cavalos. Um cavalo novo num grupo já formado será rapidamente integrado.
ü Dentro de um grupo de cavalos inteiros, formam-se “casais” de amigos. Por isso, é melhor formar grupos de números pares de cavalos. Mesmo podendo formar-se um grupinho de três, um deles vai ficar menos ligado aos outros dois. Em geral, os cavalos que vivem juntos desde há muito tempo e já tem um amigo, não vão mudar quando se introduzir mais um cavalo.
ü Se escolherem formar vários grupos, é preferível juntar cavalos da mesma “fase de vida”. Quero dizer : um grupo de poldros até aos 3 anos, um grupo de adolescentes dos 4 até aos 8, um grupo de cavalos adultos, e outro de cavalos mais velhos. Assim serão mais equilibrados porque terão as mesmas necessidades de brincar ou de correr.
DEPOIS DO PRIMEIRO ENCONTRO : vida social
O dia dum cavalo inteiro no campo, decorre de maneira muito parecida ao de qualquer cavalo que vive em grupo e em liberdade : principalmente pastar e caminhar, e também descansar umas horas em vários períodos, ficar à sombra das árvores, banhar-se na barragem,…
Igual que qualquer cavalo, vão estabelecer amizades. Cada cavalo associa-se com um outro para formar um “casal” de amigos e ficaram sempre juntos ao longo do dia, quase até comer a mesma erva quando tem vários hectares disponíveis. Também vão descansar juntos em posição de interajuda (paralelos com a cabeça no rabo do outro) para afastar-se mutualmente as moscas no verão.
Por causa da sua necessidade de testar e reafirmar sempre a sua posição hierárquica, os cavalos inteiros são mais brincalhões. Vão dedicar mais tempo cada dia a brincar com os seus companheiros, repetindo os jogos de hierarquia sem agressividade e fazendo corridas. Cada vez que se encontram depois de estar longe um do outro, mesmo pouco tempo, eles vão repetir os seus rituais de saudação teatrais (barulhentos).
FACTORES DESTABILIZADORES :
A hierarquia estabelecida nunca é definitiva. Evolui em função de muitos fatores : as circunstâncias, as amizades, a idade, etc... Mas em geral, um grupo de cavalos inteiros estará muito estável e tranquilo. Os fatores principais de destabilização são a chegada dum cavalo inteiro novo num espaço vizinho e a proximidade de éguas, castrados ou poldros. Nestes casos, observei muito mais agitação dentro do grupo, com tentativas repetidas de fugirem do seu espaço para se juntarem com os outros, partindo vedações ou cruzando a nadar a barragem. Alguns cavalos chegam a esquecer de comer, porque correm o dia todo ao longo da vedação.
Os comportamentos serão mais agressivos se éguas, poldros ou castrados se encontram dentro do mesmo espaço, porque vai haver competição entre os cavalos inteiros. Normalmente, como os cavalos inteiros já se conhecem e tem estabelecido a sua hierarquia fora deste contexto, as brigas serão limitadas. Mas podem ser perigosas, e a situação demora varias horas até se acalmar, durante as quais os cavalos brigam e correm muito. Também nunca chegam a voltar à estabilidade e à tranquilidade que existe dentro do grupo, antes de haver estes estímulos. Porque mesmo que um dos cavalos inteiros consiga afastar os outros e conquistar o elemento perturbador, os outros vão tentar rouba-lo dele com frequência.
Por isso recomendo não pôr à vista dum grupo de cavalos inteiros : éguas, poldros e castrados. É possível juntar um só cavalo inteiro com éguas ou poldros, e na maioria dos casos também com castrados. Mas alguns cavalos castrados podem ter comportamentos de inteiros em relação a “possessividade” de poldros ou éguas, e vão também se enfrentar ao cavalo inteiro.
Em conclusão :
É possível e saudável ter cavalos inteiros juntos se conseguirmos oferecer-lhes espaços respeitando as regras descritas neste artigo. Assim poderão desfrutar duma vida normal, cumprindo as suas necessidades básicas : espaço, alimentação, vida social e afetiva. E tornaram-se cavalos felizes e equilibrados, também mais fáceis de manejar na hora de trabalhar com eles.